Sunday, September 23, 2007

Amor à primeira lida

"Amor à primeira lida" pode deixar a impressão de uma leitura superficial e não é essa, de sobremaneira, a minha intenção aqui. É bom deixar bem claro que o "à primeira lida" funciona como a primeira vez em que se tem um olhar mais curioso sobre o que está sendo avaliado, o momento em que se dá o grande diferencial entre se estar lendo algo interessante ou o rótulo do papel higiênico, ou seja, o segundo em que notamos o estalo fundamental para seguir e não necessariamente a vez primeira em que se lê algo. Até mesmo porque, convenhamos, é muito difícil se ter uma leitura considerável de qualquer coisa logo de cara. "O amor à primeira lida" é só o começo da investigação que o trabalho pode - e em mim já o fez - despertar no leitor. Feita esta pequena consideração, sigamos.
O "amor à primeira lida" de hoje pertence ao José Ribamar Ferreira, vulgo Ferreira Gullar. O poeta Maranhense dispensa apresentações - espero- e o poema escolhido é um exemplo nítido e pulsante do melhor de Gullar. A existência humana é escancarada, um pouco de mim, de você, da vida, enfim. Não colarei o poema aqui porque o blog não obedece s formatação original; preferi, desse modo, deixar apenas o link. Aproveitem A Vida Bate, integrante do livro Dentro da Noite Veloz.

Coisas do Brasil...

Essa postagem era pra ter sido colocada no ar (?!? rs) na semana passada, como eu fiquei sem net só consegui chegar numa lan hoje. Como já está escrita, vai assim mesmo.
Sim, meus queridos, Renan foi absolvido. Não, infelizmente, isso não me surpreeende. Me decepciona, mas não surpreende. A calhordice do senado foi gigante pela própria natureza da instituição que já não nos representa como deveria. O companheiro mor, ainda em seu tour pela Europa, ainda se ofendeu quando interpelado sobre o fato, algo do tipo: "Eu só lamento que na minha despedida eu tenha de falar do Brasil. Seria tão mais fácil um jornalista do Estadão lá no Brasil ligar para o presidente do PT e receber todas as informações"... Pode uma coisa dessas? O presidente lamenta ter que falar do país que o elegeu e que ele representa. Excelente. Num país decente, com um presidente decente, pelo menos umas duas ou três palavrinhas (mesmo que motivadas apenas por pura estratégia política) para matar a fome da galera, a gente receberia, considerando a comoção gerada pelo caso. Dizer que é uma vergonha chega a ser tautológico, mas dá para fugir?! Como pode o voto no Congresso ainda ser secreto? Isso não existe! Mas eu estou sendo muito radical, não é isso? Tudo bem, deixe o outro lado falar: "[o voto secreto] deixa o parlamentar a sós com sua consciência em uma hora que é sublime, em que o voto é livre de quaisquer pressões". Ah, tá. A pérola elucidativa é do Arthur Vigílio; com a ajuda dele entendi. Então eles estão buscando a sublimidade, transcendência política e moral. Ah, tá. Veja você como estamos bem: quem precisa de Zorra Total(?!?), Pânico ou qualquer outro programa que se julgue de humor quando se tem uma política como a nossa? Agora é voltar atenções para a aprovação da prorrogação da CPMF, a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira mais Permanente que você conhece, admite, vai.
E como não podia deixar de ser: Pizza quentinha! E nem foi de Calabresa, nem isso eles fazem direito! Vou ali comprar o SPRITE para acompanhar e já volto.


Sunday, September 09, 2007

Dúvida cruel...


Você está num ônibus que se aproxima do ponto final, onde você descerá. A pergunta é: você precisa dar sinal?

A pergunta sempre me toma quanto estou em um coletivo. Imagine que você está rumando para o Shopping dentro de um 42 /526 e suas respectivas variações. Ao se aproximar do centro de compras você deve puxar a cordinha e provocar aquele barulho chato no ônibus inteiro ou partir do princípio de que o coletivo no qual se encontra vai necessariamente parar no ponto, já que aquela é a única linha apta a fazer o transporte daquela região e, em geral, há muitos passageiros a serem pegos ou deixados por lá? No caso doShopping não é um ponto final, mas ainda assim é uma situação, pelo menos, intrigante. Hoje, me encaminhava para Shopping, mais uma vez fui pega na hora da indecisão. Na dúvida, esperei alguém levantar primeiro e dar o sinal, me livrando do fardo.

Amor à primeira lida

O "amor à primeira lida" de hoje é da professora de Teoria da Literatura e Literatura Comparada da UFMG, Maria Esther Maciel. É daquelas que possuem um aposto admirável, atendendo como ficcionista, poeta, ensaísta. A poesia se chama Aula de Desenho e faz parte do livro Triz. Segue:

AULA DE DESENHO

Estou lá onde me invento e me faço:
De giz é meu traço. De aço, o papel.
Esboço uma face a régua e compasso:
É falsa. Desfaço o que fiz.

Retraço o retrato. Evoco o abstrato
Faço da sombra minha raiz.
Farta de mim, afasto-me e constato:
na arte ou na vida, em carne, osso, lápis ou giz
onde estou não é sempre
e o que sou é por um triz.