Tuesday, April 22, 2008

...

Socorro
Arnaldo Antunes

Socorro!
Não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir...

Socorro!
Alguma alma
Mesmo que penada
Me empreste suas penas
Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada...

Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate
Nem apanha
Por favor!
Uma emoção pequena
Qualquer coisa!
Qualquer coisa
Que se sinta...

Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa
Que se sinta
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva...

Socorro!
Alguma rua que me dê sentido
Em qualquer cruzamento
Acostamento, encruzilhada
Socorro!
Eu já não sinto nada...

Socorro!
Não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Nem vontade de chorar
Nem de rir...
Socorro!
Alguma alma
Mesmo que penada
Me empreste suas penas
Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada...

Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate
Nem apanha
Por favor!
Uma emoção pequena
Qualquer coisa!
Qualquer coisa
Que se sinta...

Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa
Que se sinta
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva...

Friday, February 22, 2008

Do cinema


Amo cinema. Não é segredo algum, não precisa ser gênio nem me conhecer muito para descobrir tal fato.
É um amor relativamente recente. Na verdade, me rendi as grandes e fascinantes possibilidades que o cinema é capaz de proporcionar há muito pouco tempo, acho que de uns quatro anos pra cá. Antes, meu tempo livre-lazer era dedicado quase que exclusivamente à música e literatura, minhas outras grandes necessidades.
"A gente deve ir ao cinema como vai a um bordel ou a um templo." A frase do Paulo Leminski mostra meu sentimento com relação ao cine: vou lá para me divertir, me fartar, me perder em tentações possíveis e palpáveis. Ou então em busca de um centramento, conexão com outras (Ou essa mesma) realidades projetadas por mentes criativas e muito bem pagas.
E já pensaram que o cinema serviria apenas para o estudo dos movimentos humanos...ai,ai!
Com a proximidade do Academy Awards que ocorrerá no próximo domingo, meu coraçãozinho está obviamente feliz. É a noite mais importante da red carpet season para mim, a mais esperada, sem dúvidas. Até o dia da premiação terei assistido ( espero) apenas três dos indicados a Melhor Filme. Estou entrando em todas as promoções possíveis para ganhar cinema grátis o ano inteiro apenas por dar meu palpite no resultado. Não custa acreditar, vai que dá certo.
Não tem muito erro: é so me procurar, estarei ao ladinho da Meryl Streep. Não fica sem graça, não. Eu te dou tchauzinho.

Thursday, January 31, 2008

Sou um monstro

"Sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?". A pergunta de Clarice lispector sempre me atormentou. Hoje o incômodo suavizou um pouco: sim, isto é ser uma pessoa, não tem pra onde correr, não. O desconforto surgia por uma idealização de vida, sempre há a idéia de que você próprio é um horror, uma martirização horrorosa.
Por vezes nós temos a sensação desleal de que somos monstros ( às vezes não é sensação, é verdade mesmo) e de que tudo mundo que nos cerca parece ter uma vida mais perfeita. Ter momentos de monstruosidade me parece ser o que nos faz mais humanos. Não precisamos deuses.
Em A grama do vizinho, Martha Medeiros trata um pouco disso. O texto dela trata um pouco dessa sensação de derrota que nos pega de vez em quando. E o poema do Álvaro de Campos ( já postado aqui no blog) que ela cita então, é perfeito. O que eu vejo são pessoas encenando o tempo inteiro, fazendo todo o possível para mostrar a todos o quanto são felizes, esquecendo, assim, que as tristezas fazem parte da vida. Ninguém é infeliz "No site de relacionamentos" ( Vulgo Orkut). Eu queria morar lá, no Orkut, onde a felicidade reina 24 horas por dia. Não sonho mais com Parságada ou um Nirvana; apenas o Orkut...
Se todo mundo parasse para falar sobre seus medos e suas dúvidas este seria um jogo mais justo. Mas quem disse que tem que ser justo? Jogo bom é aquele em que você faz as regras, ne?! Mas me impuseram essas...Fazer o q?! Eunão sou feita de certezas e vc, meu caro leitor?
A gente complica as decisões da vida, reflexão demais atrapalha.
E não param de ecoar em minha cabeça os versos de Grand' Hotel: "Qual o segredo da felicidade? Será preciso ficar só pra se viver? Qual o sentido da realidade?".
Ora sou um monstro, ora não: isso me faz ser gente. Fico com Álvaro de Campos( sempre ele) :
Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

Curta

Séculos depois: eis que retorno ao meu blog adorado! É um post que se pretende curto, assim como o curta-metragem que venho sugerir. Sabe essas historinhas pelas quais você não dá nada no começo e depois te surpreendem?! É o que acontece com Laços. Eu achei o link no blog do Gabriel, o pensador e foram seis minutos agradáveis. Disserta um pouco sobre o esssencial, é delicado....
http://www.youtube.com/watch?v=_2rnl0IzR_M

Sunday, September 23, 2007

Amor à primeira lida

"Amor à primeira lida" pode deixar a impressão de uma leitura superficial e não é essa, de sobremaneira, a minha intenção aqui. É bom deixar bem claro que o "à primeira lida" funciona como a primeira vez em que se tem um olhar mais curioso sobre o que está sendo avaliado, o momento em que se dá o grande diferencial entre se estar lendo algo interessante ou o rótulo do papel higiênico, ou seja, o segundo em que notamos o estalo fundamental para seguir e não necessariamente a vez primeira em que se lê algo. Até mesmo porque, convenhamos, é muito difícil se ter uma leitura considerável de qualquer coisa logo de cara. "O amor à primeira lida" é só o começo da investigação que o trabalho pode - e em mim já o fez - despertar no leitor. Feita esta pequena consideração, sigamos.
O "amor à primeira lida" de hoje pertence ao José Ribamar Ferreira, vulgo Ferreira Gullar. O poeta Maranhense dispensa apresentações - espero- e o poema escolhido é um exemplo nítido e pulsante do melhor de Gullar. A existência humana é escancarada, um pouco de mim, de você, da vida, enfim. Não colarei o poema aqui porque o blog não obedece s formatação original; preferi, desse modo, deixar apenas o link. Aproveitem A Vida Bate, integrante do livro Dentro da Noite Veloz.

Coisas do Brasil...

Essa postagem era pra ter sido colocada no ar (?!? rs) na semana passada, como eu fiquei sem net só consegui chegar numa lan hoje. Como já está escrita, vai assim mesmo.
Sim, meus queridos, Renan foi absolvido. Não, infelizmente, isso não me surpreeende. Me decepciona, mas não surpreende. A calhordice do senado foi gigante pela própria natureza da instituição que já não nos representa como deveria. O companheiro mor, ainda em seu tour pela Europa, ainda se ofendeu quando interpelado sobre o fato, algo do tipo: "Eu só lamento que na minha despedida eu tenha de falar do Brasil. Seria tão mais fácil um jornalista do Estadão lá no Brasil ligar para o presidente do PT e receber todas as informações"... Pode uma coisa dessas? O presidente lamenta ter que falar do país que o elegeu e que ele representa. Excelente. Num país decente, com um presidente decente, pelo menos umas duas ou três palavrinhas (mesmo que motivadas apenas por pura estratégia política) para matar a fome da galera, a gente receberia, considerando a comoção gerada pelo caso. Dizer que é uma vergonha chega a ser tautológico, mas dá para fugir?! Como pode o voto no Congresso ainda ser secreto? Isso não existe! Mas eu estou sendo muito radical, não é isso? Tudo bem, deixe o outro lado falar: "[o voto secreto] deixa o parlamentar a sós com sua consciência em uma hora que é sublime, em que o voto é livre de quaisquer pressões". Ah, tá. A pérola elucidativa é do Arthur Vigílio; com a ajuda dele entendi. Então eles estão buscando a sublimidade, transcendência política e moral. Ah, tá. Veja você como estamos bem: quem precisa de Zorra Total(?!?), Pânico ou qualquer outro programa que se julgue de humor quando se tem uma política como a nossa? Agora é voltar atenções para a aprovação da prorrogação da CPMF, a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira mais Permanente que você conhece, admite, vai.
E como não podia deixar de ser: Pizza quentinha! E nem foi de Calabresa, nem isso eles fazem direito! Vou ali comprar o SPRITE para acompanhar e já volto.


Sunday, September 09, 2007

Dúvida cruel...


Você está num ônibus que se aproxima do ponto final, onde você descerá. A pergunta é: você precisa dar sinal?

A pergunta sempre me toma quanto estou em um coletivo. Imagine que você está rumando para o Shopping dentro de um 42 /526 e suas respectivas variações. Ao se aproximar do centro de compras você deve puxar a cordinha e provocar aquele barulho chato no ônibus inteiro ou partir do princípio de que o coletivo no qual se encontra vai necessariamente parar no ponto, já que aquela é a única linha apta a fazer o transporte daquela região e, em geral, há muitos passageiros a serem pegos ou deixados por lá? No caso doShopping não é um ponto final, mas ainda assim é uma situação, pelo menos, intrigante. Hoje, me encaminhava para Shopping, mais uma vez fui pega na hora da indecisão. Na dúvida, esperei alguém levantar primeiro e dar o sinal, me livrando do fardo.

Amor à primeira lida

O "amor à primeira lida" de hoje é da professora de Teoria da Literatura e Literatura Comparada da UFMG, Maria Esther Maciel. É daquelas que possuem um aposto admirável, atendendo como ficcionista, poeta, ensaísta. A poesia se chama Aula de Desenho e faz parte do livro Triz. Segue:

AULA DE DESENHO

Estou lá onde me invento e me faço:
De giz é meu traço. De aço, o papel.
Esboço uma face a régua e compasso:
É falsa. Desfaço o que fiz.

Retraço o retrato. Evoco o abstrato
Faço da sombra minha raiz.
Farta de mim, afasto-me e constato:
na arte ou na vida, em carne, osso, lápis ou giz
onde estou não é sempre
e o que sou é por um triz.

Friday, August 10, 2007

Qualquer coisa

C'est la vie:

"Ilha é uma pessoa cercada de mágoas por todos os lados" (Michel Melamed)

"A Lucidez cobriu minha dor com tons de cinza. A embriaguez, insatisfeita, vomitou em cima" (Desconhecido)

"O que quer dizer, diz.Não fica fazendo o que, um dia, eu sempre fiz.Não fica só querendo, querendo, coisa que eu nunca quis.O que quer dizer, diz. Só se dizendo num outro que, um dia, se disse, um dia, vai ser feliz" ( Leminski)

"O mundo pode até ser um palco, mas o elenco é horrível". ( Oscar Wilde)
"Vazio agudo/ ando meio/ cheio de tudo" ( Leminski)
"Sou o único homem a bordo do meu barco./Os outros são monstros que não falam,/Tigres e ursos que amarrei aos remos,/E o meu desprezo reina sobre o mar."(Sophia de Mello Breyner)
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachadoPara fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

(...)
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?" ( Álvaro de Campos)
"Ela se jogou da janela do quinto andar/ Nada é fácil de entender" ( Renato Russo)

Wednesday, August 01, 2007

Um Sanduíche e um grande contra-tempo, por favor.

Esse texto começou no trayller. Estava eu a aguardar meu x-tudo, vulgo podrão, quando me dei conta de que ele não tinha tudo. Um original sanduíche apelidado com tal nome consiste dos seguintes ingredientes: carne de hambúrguer, queijo (fiapo, na maioria das vezes, mas a gente vai levando...), presunto, ovo, bacon, pão, maionese, ketchup, maionese, batata-palha e salada, que originalmente se comporia de alface e tomate. O “originalmente” eu explico daqui a pouco. Há também as espécies de bônus, sabe que o povo é criativo e inventa de tudo, estragando o sanduíche com queijo cheddar ou catupiry. Eis que surge um pequeno porém: a salada já não é mais a original atualmente, faz tempo que foi desfalcada, perdendo a fruta vermelha que a compunha. O tomate já rodou, tadinho, pode reparar. Até aí, a gente agüenta, é o preço do que não ajuda, a entre-safra joga tudo lá em cima e mantê-lo nos sanduíches implicaria em aumentos consideráveis, não é isso? Vida que segue. Bem, como disse, estava eu a aguardar o sanduíche quando veio a bomba: Meu x-tudo não tinha bacon! Isso mesmo que você leu, não tinha bacon! Peralá, tomate a gente perdoa, mas bacon não! É pedir demais. Revoltada, me pus a pensar que esse poderia ser um problema específico daquele estabelecimento comercial quando a ficha caiu: fiquei pasma ao notar que esse é um infortúnio que vem se repetindo. Eles estão tirando o bacon descaradamente; o bacon que junto com o queijo fazem a graça, a gordura da coisa. A educação e/ou a fome fazem com que nós aceitemos essa ofensa calados. Nós, vítimas. È preciso que reivindiquemos o bacon, nossos direitos não podem ser escamoteados. Isso de se contentar com parte da coisa ou tolerar tudo calado não é bom. Já basta ter que aturar a impunidade no Congresso, a crise do setor aéreo, o “relaxa e goza” da Suplicy, a derrota da Copa do Mundo (eu sei que faz tempo, mas...rs), meu bacon,não! Aí, foi inevitável, veio a nostalgia. Saudades do tempo em que eu usava óculos do Chaves, o Big Mac era mesmo big, eu tinha um pirocóptero, o Brasil pelo menos chegava na final da Copa do Mundo e o x-tudo tinha bacon. Quase chorei.